É impressionante como o tempo assume diferentes nuances quando refletimos sobre ele no contexto da infância e da educação. Pensar no tempo na minha trajetória como professora na Educação Infantil me faz refletir sobre todas as infâncias: a minha, as que estão em nossas mãos e as que virão num futuro bem próximo. Revisitar a minha história, pensando sobre o tempo de uma maneira cronológica é fazer um resgate das memórias, rever um tempo de muitas transformações, no qual, como professores, vivenciamos muitas mudanças positivas em relação ao olhar para as crianças. A cada período, novas abordagens, teorias e práticas surgem, modificando a maneira como os professores compreendem o trabalho docente.
Ao mesmo tempo, não temos como não pensar na nossa própria infância, num tempo em que a sociedade colocava a criança num outro lugar, desenvolvendo algumas “habilidades” e poucas competências emocionais, nem sempre estando alinhadascom as verdadeiras necessidades. Mas o que de fato nos permitiu crescer e desenvolver foram os gestos de carinho, os cuidados privilegiados e, ao longo da vida, as inúmeras oportunidades de ressignificar a infância.
O tempo cronometrado, aquele que nos direciona para uma jornada marcada por rotinas, faz parte do pensar docente, mas o tempo vivido com sentido e significado é aquele que alimenta a relação do bebê e do adulto. É por meio desses momentos de conexão genuína que os vínculos são fortalecidos e as bases para um desenvolvimento saudável são estabelecidas. São relações cotidianas individuais em um contexto coletivo de cuidados. Estar com as crianças é um ato complexo, pois estamos ocupados com o cuidar e educar, que se enlaçam no processo de constituição do sujeito. Uma etapa exigente de acolher os recém-chegados no mundo em toda a sua inteireza. Assim, o cotidiano rico deve ser permeado por um olhar sensível e uma escuta atenta às necessidades mais primordiais e à interpretação de todos os sentimentos que ousamos nomear.
Que ao chegarem na escola os bebês possam fazer bons encontros com todos aqueles que vão acolhê-los em suas inaugurações. A partir da vivência de um tempo lento e com propósito, vamos construindo outros significados ao estar com os bebês e compartilhar essa responsabilidade com todos que se ocupam de seus cuidados, assim estabelecendo vínculos valorosos para toda a vida. Entregar o nosso “tempo” como bem mais valioso para a constituição da infância.
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